Como Um Urologista Deve Atender Um Paciente Obeso?

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O número de pessoas com obesidade e sobrepeso está aumentando em todo o mundo. A obesidade tem importante relação com as doenças urológicas que por essa razão estão se tornando mais freqüentes.

Dentre as doenças urológicas, a litíase renal (cálculo), hiperplasia prostática benigna, incontinência urinária, disfunção erétil, infertilidade, câncer de próstata e câncer de rim tem importante associação com obesidade.

Litíase renal (Cálculo Renal) e Obesidade

Existem vários estudos que mostram que pacientes obesos tem maior risco de ter cálculo renal Isso se deve provavelmente a maior excreção urinária em obesos de alguns eletrólitos como Cálcio, Oxalato e Ácido úrico – eletrólitos formadores do cálculo.

Cirurgias para o tratamento da obesidade (bypass intestinal) podem causar malabsorção acarretano hiperoxalúria com conseqüente aumento da formação de cálculos.

O tratamento com dieta e medicações tem importante benefício em pacientes com cálculos de ácido úrico, enquanto para outros cálculos faltam estudos que comprovam esse benefício.

Disfunção sexual e Obesidade

Há várias evidências da associação enter obesidade e disfunção sexual.

Estudos recentes mostraram que o risco de um homem obeso ter disfunção erétil ao longo da vida é 2 vezes maior que um homem não obeso.

A causa disso não está completamente elucidada:

Alguns estudos sugerem associação entre obesidade e hipogonadismo (queda do hormônio masculino chamado testosterona que tem importante relação com a ereção); outros estudos atribuem essa maior taxa de disfunção erétil ao fato de pacientes obesos terem maior ansiedade e menor auto-estima .

Suplementação com testosterona para pacientes idosos com disfunção erétil é controversa e tem indicações precisas. Emagrecer (perder peso) tem benefício comprovado no tratamento da disfunção erétil no homem.

Da mesma forma que os homens, as mulheres obesas tem disfunção sexual mais frequentemente que as não obesas. Estudos preliminares sugerem que a perda de peso melhora a função sexual desse grupo de pacientes.

Disfunção Miccional

Hiperplasia Prostática Benigna

Homens obesos tem maior incidência e severidade de hiperplasia prostática benigna (HPB) Como resultado disso, mais frequentemente tem sintomas como jato fraco e intermitente, intervalo entre as micções reduzido, noctúria (acordar à noite para urinar), necessidade fazer força abdominal para urinar e resíduo apos a micção aumentado.

Noctúria (acordar à noite para urinar)

Homens e mulheres obesos tem maior taxa de nocturia que pacientes não obesos.

Incontinência Urinária de Esforço

Estudo mostrou que mulheres obesas tem 2,3 vezes mais chance de ter incontinência urinária de esforço (perda urinária quando faz força, tosse, espirra) que mulheres não obesas.

Como explicação para essa associação sugere-se que o aumento da pressão abdominal pela obesidade causa maior pressão no interior da bexiga.

O emagrecimento / perda de peso tem benefício no tratamento cirúrgico e não cirúrgico da incontinência urinária de esforço.

Obesidade e infertilidade

Vários estudos mostram que homens com sobrepeso e obesos tem maior prevalência de anormalidades na qualidade do espermatozóide (menor contagem, menor concentração, menor motilidade e aumento do índice de fragmentação do DNA).

Não é conhecida até o momento a causa dessa associação mas sabe-se que apnéia do sono, alterações hormonais (diminuição dos andrógenos, diminuição da inibina B e aumento do estrógeno) e aumento da temperatura escrotal podem estar associados.

O tratamento da infertilidade e obesidade nesses casos deve ser individualizada.

Obesidade e Câncer

Câncer de próstata

A comparação entre pacientes obesos e não obesos a respeito do câncer de próstata mostrou em diversos estudos que pacientes obesos tem câncer de próstata mais agressivo ao diagnóstico com maior taxa de recorrência que os pacientes não obesos.

Câncer de rim

Estima-se que 40% dos casos de câncer de rim dos Estados Unidos tem relação com obesidade Estudo indica que para o aumento do índice de massa corpórea (IMC= peso / altura 2) em 5kg/m2 tem aumento em 25% de risco de câncer de rim em homens e 35% em mulheres.

Obesidade e tratamentos cirúrgicos

As complicações relacionadas ao ato cirúrgico são mais freqüentes em pacientes obesos quando comparados aos pacientes não obesos por essa razão algumas orientações podem ser importantes para esse grupo de pacientes.

  • Avaliação pré operatória Para esse grupo de pacientes existem diversas orientações específicas que visam a diminuição dos riscos durante a cirurgia
  • Cirurgia minimamente invasiva: Cirurgias convencionais (abertas) tem maior taxa de complicação, tempo de internação, mais dor no pós operatório que cirurgias minimamente invasivas (cirurgias endoscópicas, cirurgias laparoscópicas e robóticas) especialmente em pacientes obesos.

Como um urologista deve atender um paciente obeso?

Como está escrito acima, o Urologista deve saber das peculiaridades que esse grupo de pacientes têm em relação a cada doença e o entendimento da indicação de outros profissionais – Endocrinologista, Psiquiatra, Nutricionista – no tratamento do paciente.

O tratamento do paciente obeso é complexo e deve ser individualizado e quando necessário realizado por uma equipe multidisciplinar.

Dr. Fabio Leme Ortega